Discurso de Biden à Nação:
A hipocrisia vergonhosa é o último prego no caixão da América

Simplicius, TheThinker [*]

Bem, é isso. Esta noite marca o que pode muito bem ser o último suspiro de le siècle Américain.

O repugnante discurso de Biden à nação estava repleto de uma falta de auto-consciência sem precedentes. Inchado de arrogância, mostrou a face nua e crua da servidão dos Estados Unidos aos globalistas que se apoderaram não só da política externa da América, mas também da sua política interna – e de tudo o que está no meio.

É preciso estar numa espécie de estupor drogado ou sob o feitiço da narrativa do establishment para não reparar na hipocrisia hedionda que saiu da boca demente e medicamente malformada de Biden esta noite. Na mesma frase, condenou ironicamente a "invasão bárbara" de Putin sobre um vizinho mais pequeno, enquanto implorava dezenas de milhares de milhões para Israel... levar a cabo uma invasão bárbara sobre o seu vizinho mais pequeno.

Como é possível que tantas pessoas estejam tão adormecidas ao ponto de não verem a hipocrisia patente nisto? Temos de acreditar que as bombas "cruéis e injustas" de Putin estão a matar ucranianos, enquanto as bombas "justificadas" de Israel estão apenas a "colateralizar" os palestinos.

Aos 2:50, tem mesmo a ousadia de comparar o Hamas à Rússia, na medida em que "ambos querem aniquilar uma democracia vizinha". Isto é uma ofuscação de proporções históricas – e Biden adora aberturas históricas, afinal de contas comparou-se a Abraham Lincoln durante o discurso.

É um facto bem conhecido e estabelecido que o único objetivo de Israel é remover completamente os palestinos de Gaza e enviá-los para o Egipto, o que é a definição literal de remover um país vizinho, dado que Gaza deixará consequentemente de existir. Em segundo lugar, dado o facto de toda a ONU ter reconhecido a Palestina como uma nação, mas Israel se recusar a permitir que os palestinos sejam uma nação, significa que é Israel, por definição, que está a tentar literalmente erradicar uma nação nas suas próprias fronteiras; e não apenas a tentar, mas já o fez efetivamente.

Aqui está um jornal muito antigo que prova que os planos de Israel sempre foram empurrar os palestinos de Gaza para o Sinai e os da Cisjordânia para a Jordânia:

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Agora, Israel está a atacar deliberadamente hospitais, mesquitas e igrejas, a fim de despojar o norte de Gaza de quaisquer comodidades, pontos de referência ou locais culturais de que valha a pena viver perto, de modo a deixar os palestinos sem outra alternativa que não seja fugir para sul.

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Sim, amigos – isto é real. Já nem sequer estão a fingir que o escondem:

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www.theguardian.com/world/2023/oct/10/right-now-it-is-one-day-at-a-time-life-on-israels-frontline-with-gaza

Trata-se de pura destruição e genocídio propositado para expulsar os palestinos numa nova Nakba.

Mas os paralelismos hipócritas do velho demente continuam.

Ele troça de Putin por afirmar que a União Soviética criou a Ucrânia – ou seja, no fundo, está a defender o facto de a Ucrânia ter um mandato legítimo para existir, apesar de ser uma construção bastante artificial. Bem, a Palestina também foi dividida e os seus restos transformados em Estados arbitrários e artificiais – por isso, não deveriam também ter o direito de existir? O que é que dá a Israel o direito de negar à Palestina o seu próprio direito legal à condição de Estado, inerente ao Plano de Partilha original certificado pela ONU?

E prossegue a dizer que a Ucrânia está apenas a tentar libertar a sua terra do invasor - olá? O que pensa que os palestinos estão a tentar fazer? Não só no sentido imediato, tendo em conta que Israel está prestes a lançar uma invasão terrestre literalmente na sua terra de Gaza, mas no sentido mais lato de que o próprio Estado de Israel existe em terras palestinianas históricas e ancestrais. Curiosamente, quando a Partição foi criada em 1947, 62% das terras da Palestina foram atribuídas ao Estado judeu, apesar de os palestinos serem em maior número do que os judeus, 2 para 1. Isso é que é equidade!

Mas Biden faz um trabalho desajeitado para ligar tudo isto. Trata-se de uma tentativa falhada de uma monumental, mas clássica, ofuscação. Começa por defender o genocídio árabe racista e, depois, acaba a sua arenga repulsiva mostrando "o quanto ama os muçulmanos", invocando a "islamofobia" galopante na América, nomeando a criança muçulmana recentemente morta em Chicago devido aos acontecimentos em Israel, etc.

Isto é uma ofuscação clássica. É o marido abusivo que espanca a mulher e a seguir tenta bombardeá-la com amor e manipulá-la para que pense que o fez por amor e compaixão por ela. "É porque gosto tanto de ti que tenho de te bater sem sentido!"

Então, porque é que comecei com a abertura aparentemente para atrair cliques (clickbaity) de que este é o último prego no caixão da América? Não era apenas sensacionalismo – estava a falar a sério. Isto porque, neste momento histórico crucial – que o próprio Biden definiu com exatidão como o ponto de inflexão – Biden carimbou para sempre o lugar da América no lado errado da história. Revelou ao mundo em geral que a posição moral da América caiu; revelou a face nua e crua da completa degradação e degenerescência moral da América.

Amanhã, deverá fazer um pedido emblemático de 74 mil milhões de dólares para apoiar o genocídio, tanto na continuação do bárbaro massacre de civis na Ucrânia, que já dura há nove anos, como na bárbara limpeza étnica da Palestina por parte de Israel.

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Este ponto de inflexão pode ser um "ponto de não retorno" para o mundo. Muitos estão agora a reconhecer que o mundo parece estar a caminhar para uma viragem muito negra. É cada vez mais provável que os próprios EUA nem sequer tenham eleições em 2024 ou, se as tiverem, marcarão uma convulsão social sem precedentes e uma potencial guerra civil. Era isto que eu queria dizer com o último prego. Os acontecimentos estão a ficar fora de controlo e há grandes probabilidades de "nada voltar a ser como dantes" se Israel puxar mesmo o gatilho e Biden receber o seu dinheiro.

Ainda há uma hipótese de prevalecerem cabeças mais sãs e de evitarmos certas reviravoltas fatalistas. Mas, de uma maneira ou de outra, a torpeza moral a que se assiste no mundo ocidental está a atingir um ponto de ebulição. O mundo está farto da hipocrisia, da duplicidade de critérios e do racismo dos elitistas do "Jardim Europeu" de Borrell.

Já os vimos desumanizar repetidamente todos os que não concordam com a sua narrativa. Os russos podem ser desumanizados como humanóides (orcs), os sírios, os palestinos, etc, podem ser mortos à vontade e rotulados de "terroristas" sem que se derrame uma única lágrima. Na Europa, é permitido queimar abertamente o Alcorão como "liberdade de expressão", mas agora qualquer pessoa que proteste contra Israel com uma bandeira palestina é presa por "violar" um qualquer tipo de lei:

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www.theguardian.com/politics/2023/oct/10/people-supporting-hamas-in-uk-will-be-held-to-account-says-rishi-sunak


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Leiam isto outra vez e pensem bem: é perfeitamente legal queimar o Alcorão como "liberdade de expressão", mas é ilegal levar uma bandeira palestina porque é "insensíbilidade" para com o povo israelita.

O mundo está farto da hipocrisia e da duplicidade de critérios do Ocidente. Por isso acredito que o discurso de hoje marca um ponto de viragem para o qual um dia poderemos olhar para trás um dia, daqui a muitos anos. Biden é o perfeito "presidente terminal" emblemático – um fantoche de plástico doente, decadente, geriátrico, covarde e amoral, induzido por medicamentos, que representa os últimos dias de doença terminal do seu império em declínio.

Estas são as imagens angustiantes de uma nação perversa em declínio. E toda a gente vê que o imperador não tem roupa. Deixo-vos com uma amostra do discurso desta noite de vários meios de comunicação social. Reparem nos rácios de "Gosto":

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E nesta nova sondagem:

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20/Outubro/2023

[*] Analista político.

O original encontra-se em simplicius76.substack.com/p/bidens-address-to-nation-shameful?publication_id=1351274&post_id=138120570&isFreemail=true&r=ubvt0

Este artigo encontra-se em resistir.info

20/Out/23